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Pesquisa inédita mostra impacto diário do racismo na vida da população preta 1155b

Pesquisa aponta que 84% das pessoas pretas já sofreram discriminação racial no Brasil; Confetam cobra ações concretas e permanentes de combate ao racismo institucional.
Um novo estudo divulgado nesta terça-feira (20) revela o que a população preta brasileira já sente na pele há séculos: o racismo segue estruturando o cotidiano, limitando oportunidades e desumanizando vidas. Segundo a pesquisa, 84% das pessoas pretas afirmaram já ter sofrido discriminação racial no Brasil.
A pesquisa integra a série “Mais Dados, Mais Saúde”, desenvolvida por Vital Strategies e Umane, com apoio do Ministério da Igualdade Racial (MIR), Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Instituto Devive e Instituto Ibirapitanga. Os dados foram coletados entre agosto e setembro de 2024, por meio de questionários aplicados pela internet, e possuem amostragem nacional, com base no Censo 2022 e na Pesquisa Nacional de Saúde de 2019.
Para a presidenta da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal (Confetam/CUT), Jucélia Vargas, os números refletem uma realidade invisibilizada por décadas, mas sentida no cotidiano de milhões de brasileiras e brasileiros negros.
“O estudo apenas confirma, com dados, aquilo que vivemos todos os dias: somos tratadas com menos gentileza, com menos respeito, com desconfiança. Como mulher preta e trabalhadora do serviço público, eu afirmo: o racismo está presente nos atendimentos, nas promoções de carreira, na forma como nossa presença é lida. Olhar para esses dados é um o necessário, mas o Brasil precisa sair do diagnóstico e partir para a transformação concreta”, afirma Jucélia.
Entre os recortes mais alarmantes da pesquisa estão os relacionados ao tratamento recebido pela população preta:
- 51% dizem ser tratados com menos gentileza;
- 49,5% sentem ser tratados com menos respeito;
- 57% relatam ser mais mal atendidos no cotidiano;
- 21,3% afirmam ser seguidos em lojas por suspeita de furto.
A secretária de Combate ao Racismo da Confetam, Vilani Oliveira, também mulher preta e referência no movimento sindical antirracista, alerta para os impactos estruturais da discriminação, inclusive dentro do serviço público.
“É fundamental que a gente entenda que o racismo não é só um sentimento ruim — ele é uma prática cotidiana que rouba oportunidades, adoece pessoas e impede que o serviço público cumpra sua missão de atender com equidade. Mulheres e homens pretos são subrepresentados nos cargos de liderança, recebem menos oportunidades de formação, e ainda enfrentam o olhar do preconceito diariamente. Combater isso exige política pública permanente e compromisso institucional com a reparação”, destaca Vilani.
O estudo também revelou que as mulheres pretas são o grupo que mais reporta múltiplas razões para discriminação: 72% afirmam ter sofrido preconceitos interseccionais, como racismo combinado com machismo ou classismo. Isso confirma o que os movimentos sociais têm denunciado há décadas: o racismo se expressa de forma ainda mais cruel sobre os corpos femininos.
A Confetam reforça, diante dos dados, a urgência de implementar políticas afirmativas no serviço público, fortalecer a formação antirracista nos espaços institucionais e garantir mecanismos de escuta e denúncia em todos os níveis de gestão. Para a entidade, enfrentar o racismo é uma tarefa urgente da democracia brasileira.
“Não há democracia real com racismo. Não há justiça social com exclusão. Como mulheres pretas, lutamos para que nossas vozes sejam ouvidas e, mais do que isso, transformem estruturas. Seguiremos até que todas e todos possam viver com dignidade e respeito”, finaliza Jucélia Vargas.
Fonte: CUT RS